sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pessoas Normais

Ele acordou de manhã sem a mínima vontade de levantar. Queria ficar um pouco mais na cama, sonhar com o domingo maravilhoso que teve com o seu amor no domingo. Sim, falava aos quatro-ventos o quanto era bom encontrar-se com essa tal de Rafaela que ninguém nunca via nem por foto, nem por facebook. Só sabiam que ela fazia Ricardo suspirar...



Daniela fez as compras do mês, desejou feliz aniversário para a mãe enquanto preparava lasanha. 

Ricardo bebeu demais, acabou falando mais do que devia, fazendo loucuras das quais lembrou quando teve a ressaca moral. Mas a vida é curta para lamentação, ela serve de aprendizado, de lição, como meio de acumular lembranças, gargalhadas...Gargalhando sozinho com as lembranças e sorrindo discretamente logo logo após para não acordar o irmão, tomou banho, colocou a roupa e foi trabalhar.

Daniela correu com o cão no parque, fez yoga, lavou a louça, leu um livro do Nietzsche, foi à academia. Teve uma forte enxaqueca, tomou Neosaldina.




Ele escutou as ladainhas do chefe, as piadas racistas e preconceituosas que tinha um verdadeiro horror em escutar, aquilo soava-lhe como soda caustica corrosiva nos ouvidos, como lama nojenta a querer limpar imediatamente. Fingiu-se de surdo.

Daniela ficou no quarto deitada durante a tarde, logo depois chegam no apartamento mais uma outra mulher e sua filha, as duas carregavam um lindo buquê de flores, com um cartão cheio de desenhos e palavras "mamãe, você é muito especial pra mim. Te amo". Lindo!... - pensou. A dor de cabeça até passou, não resistiu a tanto amor... s2




Ricardo, após o serviço passou num bistrô aconchegante com uma comida maravilhosa, na companhia dos seus amigos. Falaram sobre assuntos triviais da vida, falta de dinheiro, fragilidade da vida amorosa, a política extremamente safada do nosso país, e como todo bom brasileiro, fizeram da queixa um novo motivo para união. Viva o Happy Hour! E usaram das risadas e da amizade um estimulante para continuar vivendo com alegria... "Já é seis horas! Gente, vou indo embora, se não vou pegar um trânsito infernal, beeeijo" - falou. Despediu-se, foi.

Ricardo e Daniela, pessoas normais. Bons cidadãos, pagam suas contas, têm sua família, suas obrigações. Gente honesta. Lindo, né?

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Ricardo e Daniela.
O amor de Ricardo chamava-se Rafael. Não Rafaela.
A mulher que entrou no quarto com a filha de Daniela era Mariana, sua esposa dedicada e fiel, estavam juntas à seis anos, e a filha Duda era um presente que a vida havia lhes dado naquele dia que visitaram o orfanato e foi amor à primeira vista. Adotaram-na.



Continuo a dizer: Gente que ri, chora, fica doente, têm suas conquistas, obstáculos, e tem sentimentos como você. O fato de terem uma condição sexual diferente não os faz deixarem de serem pessoas brilhantes.

São homo. Pra você, esse fato muda em alguma coisa o rumo da história? Os seres que eles são não merecem respeito por conta disso?

A homossexualidade não faz da vida de ninguém um fardo difícil de carregar. O que faz a vida de alguém difícil é o preconceito.

Pense nisso.


2 comentários:

  1. Isso mesmo Ale :) Se as pessoas dessem mais valor ao amor e ao respeito o mundo seria um lugar ótimo rs Obrigada por passar por aqui, volte sempre *-*

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