segunda-feira, 30 de junho de 2014

>> Por entre muros

Te beijei com os mais deliciosos beijos, eu sei. E te enfeiticei por capricho que o tédio havia trazido consigo. Era gostoso esse jogo de fazer-te amar-me com tanto ardor e devoção, my Lady. Excitante era poder envolver-te com as minhas cartas cheias de palavras doces, fazer promessas que no fundo eu sabia que jamais passariam de frases ditas, e ver esses olhos claros e verdes com pintinhas castanhas me fitarem como se eu fosse a mais bela das criaturas, a mais carinhosa e angelical da terra.



Uma deliciosa e excitante brincadeira.

Esgueirar-me contigo por entre as árvores, nesse amor proibido e imoral que era o nosso conto secreto de verão, e naquela estação os raios solares faziam brilhar as minhas coxas, e reluziam suas pernas rijas e másculas naquele short. Reluzia meu sorriso por embarcar nessa aventura sem vergonha, com medo e ao mesmo tempo com prazer de pensar se alguém nos visse por trás daqueles muros, prazer em uma eventual espionagem.

Nos enlaçávamos em qualquer oportunidade sem o menor pudor, longe de olhares delatores, dando perdidos por entre as tardes vazias que se tornavam cheias e transbordantes com a mistura da minha pessoa contigo. Entre as prateleiras, entre os arbustos, entre lavabos, no chão, entre as minhas pernas. Loucura.

Um lado meu flagra-se a refletir às vezes, na penumbra da madrugada: Devia ter sorvido mais desse amor, sugado mais até a última gota desse néctar. Devia ter tocado sua pele. Lido seus textos, que dizia que só entregaria quando se sentisse pronta. Devia ter aceitado seus presentes. Por que não? Porque, de repente, o desejo esvaiu-se como névoa, e tive um lampejo de honestidade. O superego gritava: Detenha-se, ardilosa! Está indo longe demais!

Confessei por telefone: não dá mais. 
Game over - e minha voz tinha um certo pesar. E aquele telefone nunca mais usado por mim para falar sobre desejos por ti na calada da noite, enquanto todos dormiam seu sono ingênuo. Você soluçava, eu silenciava entre o remorso, o apego e a indiferença.

Minha outra face se culpa por ter envolvido a sua pessoa tão crédula e otimista nessa teia tão ardilosa, e depois sair dela com destreza, quando percebi que eu não podia mais manter essa história em anonimato, acovardei perante o mundo cheio de críticas.

Hoje tu me vês, e sendo feita a corte para mim por alguém que tu não conhecias, e mesmo depois de muito tempo, vi a raiva no teu olhar de cristal querendo transbordar pelas tuas mãos em forma de socos. Mas conteve-se, e percebi a sua dor, seu ódio. This is the life, sweet girl. This is love.

Pensei que traria tudo à tona para vingar seu sentimento puro e jogado fora. Calou, simplesmente, riu com a amiga tentando ser atriz. Se me ama, não sei. Mas que não superou, é óbvio.

Supera logo, para o meu ID provar dos teus lábios de novo.
Supera logo, para que minha consciência possa pedir desculpas por tudo que te fiz, sem o cinismo dos beijos, para que eu possa quitar o karma. 

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