sexta-feira, 6 de junho de 2014

>> Sentimento que corrói: Inveja

Ela chegou em casa, tirou aqueles sapatos que lhe apertavam os pés. Apertado estava seu coração. Queimavam suas entranhas, da maneira que queimavam de modo avassalador, e ultimamente, isso acontecia com uma frequência de curto intervalo que lhe torturava. Torturada pelos próprios sentimentos. 

Jogou o casaco pra longe, com raiva. Sua vontade era quebrar a casa toda, arranhar as cortinas, fazer a refração para fora de todo caos que reverberava por dentro.

Por anos aquilo lhe corroía, lhe dava azia, fazia o fígado fabricar tanta bílis. 



Odiava aquela mulher com toda a força que seu corpo quase adoecido pela inveja ainda podia ter. Ela a odiava sim, mas não por nada que fizesse sentido: e sim, porque a julgava proprietária do que ela mesma se achava no direito de possuir, no lugar dela:

Aquele emprego dos sonhos: ganhava bem, realizava seus sonhos na medida do possível. Eficiente, pontual, educada. 

Aquela família, que não era a família dos sonhos, mas apesar de todas as intempéries, permaneciam naquela união, naquela preocupação que, mesmo carregada de dominação, era uma demonstração de amor.

Aquele homem que ela tinha, um príncipe , gentlemann daqueles que, mesmo que ela deitasse com muitos homens e a adversária se doasse para poucos, sabia que nunca poderia ter.

Aquela barriga chapada, aquele sorriso de comercial de creme dental, aquele cabelo esvoaçante de comercial de shampoo estrangeiro. E era sim, tão natural!!! Em cada detalhe... Sem forçar absolutamente NADA.

Deixou a água quente escaldar um pouco seu corpo, e debaixo do chuveiro chorava. Por mais que tentasse provocações não abalavam aquela mulher! Difamações não eram suficientes; sarcasmo a importunava sim, mas não a tiravam do eixo por mais que vinte minutos.



E vendo o rosto inchado pelo choro, a torturada emocionalmente perguntava-se mentalmente: Será que não era hora de parar de olhar para a outra e ...

enxergar-se?? 

1 comentário:

  1. Oi, querida, achei seu blog por acaso em comunidades de direitos humanos (LGBT) e fiquei muito feliz com a qualidade dos seus textos. Eu tinha uma amiga trans (devido à distância nós temos pouco contato) e gostaria de manter um diálogo cultural contigo. Abraços!

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