segunda-feira, 14 de julho de 2014

Lygia Fagundes Telles, Frio, Vida e EU

Hoje levantei da cama após uma noite extremamente tumultuada. Extenuada, cansada. A Copa acabou neguinha... O que é isso? Afinal de contas... Porque que eu sou obrigada a sair do meu edredom para encarar esse frio ai fora? Fala sério... ninguém está me encostando uma arma nas costas para que eu coloque as minhas botas... mas eu mesma, como carrasca minha, obrigo-me. Foi-se o tempo em que a escravidão vinha só do outro, irmão. Hoje, ela é numa simbiose: tu me escravizas, eu te escravizo; nossos eus se escravizam no silêncio dos nossos próprios egos cheios de obrigações, e isso se torna um círculo vicioso que sempre tem combustível pra rodar..........

Para! 
Na moral, to de saco cheio.
Cansei de escrever certinho. De sonhar em estar na lista dos best-sellers, sendo que no final, sempre vou estar isolada na frente do computador, na esperança de que alguém leia o meu blog e se sinta tocado. O conforto anônimo de quem me lê é meu único pagamento, e não faço questão de outro. O negócio para eu estar mesmo satisfeita com o que faço, é pensar que meu MAKTUB é estar sempre na classe média-baixa brasileira, e ser feliz com isso. Procurar mesmo fazer o que gosto, porque tentar ganhar dinheiro com o que não me dá tesão, realmente não vai rolar, e por mais que eu tentasse, minhas mãos seriam estéreis em uma coisa dessas.



Lygia Fagundes Telles me ensinou que não precisa escrever com um encadeamento perfeito de ideias para conseguir tocar quem lê, para ser brilhante. Me mostrou que a magia da escrita está no delírio, na "briza", não na simetria. Me mostrou, que não precisa ser gringo, ex atriz porn ou fazer livro com temática sadomasô ou autoajuda para ganhar ibope.  Que estar na lista TOP 10 DO TIMES "MAIS VENDIDOS" não significa qualidade, não significa ser ótimo escritor. Isso não foi ela que disse. Isso foi tudo que ela me ensinou numa linguagem não-verbal e subentendida, somente com uma rápida lida que fiz de duas obras dela, observando a forma que ela escreve, vendo que escreve para agradar a si, e mesmo assim recebe prêmios por isso.

Acordei de um jeito meio virado, e agora estou enxergando tudo de um jeito. Turvo. Onde percebo que essa realidade nossa não faz sentido nenhum, é tudo inútil. Lembro de quando eu era criança, e eu acumulava um monte de coisas na minha caixa: brinquedos, bonecas quebradas, grãos de arroz que roubei da cozinha, algodões que tirei do banheiro, tudo só pra brincar; não fazia a menor ideia da diferença entre útil e inútil, e saber ou não disso não fazia a menor diferença na minha vida. Vida? Que que é isso, mãe? Mãe como é o seu nome de verdade? Por que a gente tem que se matar tanto? No trânsito? No escritório? Nessa ditadura disfarçada? Nessa falta de união deplorável, onde os brasileiros só se unem pra zombar da própria pátria (como se o mundo não fizesse isso o suficiente, se situem). E quem tenta fugir desse sistema-porcaria simplesmente é segregado, como um vídeo dos policiais quebrando os artesanatos dos malucos de estrada que simplesmente preferem trançar arames ao invés de teclar que nem um escravo-tecnológico em um escritório. Livre-arbítrio é como um doce que a gente vê pelo vidro da padaria, sabe que existe, já pudemos um dia provar uma migalha, mas sabemos que no fundo ele não nos pertence.

Vejo as pessoas se movendo pelo vidro fumê. Elas sabem pra onde estão indo. Casa trabalho mercado casa-do-amante casa-da-amiga boate GLS (me leva, me leva, me tira daqui e me leva pra uma boate gay agora, por favor, quero esquecer esse mundo louco num arco-íris lindo que é meu verdadeiro eu) show de reggae (Jah, te imploro para que me faça poder ir... sei que o show começa dez da noite, mas deuuus o tempo é uma ilusão poxa, faça meus pais me libertarem uma noitezinha só e me deixarem irrr sem eu ter que criar estratégia...).

As pessoas sabem pra onde estão indo sim. Sabem pra que. Mas não sabem o porque, a causa maior. E vão vivendo nesse limbo de acontecimentos, sobrevivendo, sem ao menos entender: por que existo?

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Não é mais a mesma coisa

Tenho saudade daquele tempo no qual você largava tudo pra me ver. Largava serviço, Hobbes, amigos, projetos, tudo. Eu olhava para ti naquelas noites lindas de luar, e mesmo eu estando naquele moletom amarrotado, de cara lavada, olhava para mim com aquelas brilhantes estrelas de prata nos olhos, me dizendo que eu era mesmo a mulher da sua vida.

Agora, parece que você me colocou no lugar ao qual eu realmente pertenço: eu tenho igual prioridade que as outras coisas e pessoas tem. E a cada dia que passa, tento de todos os modos, com uma canção, um carinho, cafuné, desenhos ou planos novos, fazer ressurgir das cinzas aquele ardor de antes. Mas parece que tudo que eu faço é vão. Que seu corpo simplesmente não tem mais a mesma sensibilidade ao meu toque.

Eu tenho sonhos torturantes, nos quais você me troca por alguém. No qual vejo alguma outra sentindo-se em êxtase contigo, sentindo prazer com algo que pertence a mim.

Pior que perder algo meu, é perceber que perco em parcelas, em doses homeopáticas, à prestação.

Não é mais a mesma coisa.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

>> Permita que o teu medo seja pequeno, e teus sonhos, gigantes


Corre atrás daquilo que queres
Mergulha no abismo profundo que lhe amedronta, mesmo que o medo faça  
doer-lhe as entranhas
Aprofunda-te nessa aventura, mesmo que  a sensação provocada seja demasiado torturante ou estranha.




Portas baterão contra tua face
Muitos sabotarão sob disfarce 
Alguns escarnecerão de ti
Mas não fique parado
calado 
quieto
inerte
Enquanto seu objetivo dança sinuosamente em sua frente 
Provoca 
Tenta
Te faz sonhar toda noite no escuro do quarto

Não tenha medo de expor seu trabalho à críticas
sua cara ao ridículo
Sujeitar-se a um não daquela mulher tentadora
que teu orgulho sempre seja menor
 não impeça suas ambições.

Lute mesmo para que engulam todas as palavras 
Para contrariar os pessimistas
Ultrapassar record, expectativas. 
Mas antes de tudo, lute por você.
Amorteça o ego frágil com o escudo das suas aspirações
Faça-as serem tão grandes, que saltarão como Airbag para fora do peito
e aqueles risos irônicos não doerão mais.

Tenta. 
Isso não significa ausência de medo
O risco da negativa continua existindo
Mas, no final, ao menos terá o mérito de pensar que não foi covarde diante dos teus mais profundos
DESEJOS.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

>> Por entre muros

Te beijei com os mais deliciosos beijos, eu sei. E te enfeiticei por capricho que o tédio havia trazido consigo. Era gostoso esse jogo de fazer-te amar-me com tanto ardor e devoção, my Lady. Excitante era poder envolver-te com as minhas cartas cheias de palavras doces, fazer promessas que no fundo eu sabia que jamais passariam de frases ditas, e ver esses olhos claros e verdes com pintinhas castanhas me fitarem como se eu fosse a mais bela das criaturas, a mais carinhosa e angelical da terra.



Uma deliciosa e excitante brincadeira.

Esgueirar-me contigo por entre as árvores, nesse amor proibido e imoral que era o nosso conto secreto de verão, e naquela estação os raios solares faziam brilhar as minhas coxas, e reluziam suas pernas rijas e másculas naquele short. Reluzia meu sorriso por embarcar nessa aventura sem vergonha, com medo e ao mesmo tempo com prazer de pensar se alguém nos visse por trás daqueles muros, prazer em uma eventual espionagem.

Nos enlaçávamos em qualquer oportunidade sem o menor pudor, longe de olhares delatores, dando perdidos por entre as tardes vazias que se tornavam cheias e transbordantes com a mistura da minha pessoa contigo. Entre as prateleiras, entre os arbustos, entre lavabos, no chão, entre as minhas pernas. Loucura.

Um lado meu flagra-se a refletir às vezes, na penumbra da madrugada: Devia ter sorvido mais desse amor, sugado mais até a última gota desse néctar. Devia ter tocado sua pele. Lido seus textos, que dizia que só entregaria quando se sentisse pronta. Devia ter aceitado seus presentes. Por que não? Porque, de repente, o desejo esvaiu-se como névoa, e tive um lampejo de honestidade. O superego gritava: Detenha-se, ardilosa! Está indo longe demais!

Confessei por telefone: não dá mais. 
Game over - e minha voz tinha um certo pesar. E aquele telefone nunca mais usado por mim para falar sobre desejos por ti na calada da noite, enquanto todos dormiam seu sono ingênuo. Você soluçava, eu silenciava entre o remorso, o apego e a indiferença.

Minha outra face se culpa por ter envolvido a sua pessoa tão crédula e otimista nessa teia tão ardilosa, e depois sair dela com destreza, quando percebi que eu não podia mais manter essa história em anonimato, acovardei perante o mundo cheio de críticas.

Hoje tu me vês, e sendo feita a corte para mim por alguém que tu não conhecias, e mesmo depois de muito tempo, vi a raiva no teu olhar de cristal querendo transbordar pelas tuas mãos em forma de socos. Mas conteve-se, e percebi a sua dor, seu ódio. This is the life, sweet girl. This is love.

Pensei que traria tudo à tona para vingar seu sentimento puro e jogado fora. Calou, simplesmente, riu com a amiga tentando ser atriz. Se me ama, não sei. Mas que não superou, é óbvio.

Supera logo, para o meu ID provar dos teus lábios de novo.
Supera logo, para que minha consciência possa pedir desculpas por tudo que te fiz, sem o cinismo dos beijos, para que eu possa quitar o karma. 

>> Três



Minha casa afunda
E é impossível negar
Enquanto o mal circunda 
de um jeito que chega a torturar.

Me sinto dependente
impotente
Sem nada a fazer
Vendo o trio ficar doente
carente
Sem poder deter

Perdendo a gota de amor que resta

Impossível ser alegre, sorrir
fazer festa
Se a atmosfera que nos circunda é hostil
funesta

Difícil o crescimento
quando todo mundo quer rastejar
No chão
Difícil socializar se tudo, no final se converte em 
solidão

Sinto culpa por ver o sonho ruir 
assim
A consciência me culpa
não desculpa
Por perceber que a fórmula da paz não cabe
dentro de mim
Pelo fato de que eu mesmo não consigo segurar meu próprio 
caos

Não adiantam orações
Elas nunca se mostraram mais fortes que os acontecimentos e
pensamentos maus

Ouvi dizer que a porta é estreita
Só dá pra passar um de cada vez
Não dá pra passar de mãos dadas
Mas me dói 
Deixar 
os 
três.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

>> Recado a quem não aceita aquilo que é diferente de si

Me desculpa por ter a coragem de dizer, mas não é mudando de canal que conseguirá apagar as diferenças que te incomodam e que pelo fato de você odiar pessoas diferentes de você, fica colocando Deus na frente para justificar o preconceito.

Não é criticando a Globo e dizendo o quanto ela é imoral que as pessoas vão parar de gostar do casal mais lindo da novela das oito, que é composto por ELAS, e não por ELE e ELA, como o padrão heteronormativo julga ser a única forma certa de relacionamento. Bem-vindo a TV aberta, e se você não tem dinheiro para por tv à cabo ou coragem de fazer qualquer outra coisa para não assistir a "abominação", é porque no fundo você adora ver. Só não tem coragem de admitir.

A diversidade sexual e de gênero vai muito além do horário nobre. Antes de estar em roteiro de novelas, foi enredo de amores escondidos, proibidos, considerados pecaminosos por séculos, punidos de forma implacável. Hoje caminha livremente pelos shoppings, , nos restaurantes, estações de metrô, no asfalto e no subúrbio, e por mais que os intolerantes soltem risinhos irônicos, a discriminem usando como base um livro escrito há mais de dois mil anos que no final ninguém segue as práticas de verdade, usem a violência verbal e física, não vai adiantar.

Nem toda a barbárie cometida antigamente com gays, lésbicas, bis, e trans foram capazes de sufocar essas tendências que nascem na alma de cada uma dessas pessoas. É remar contra a maré, e por mais que a maioria não queira e desrespeite a liberdade de que cada indivíduo deve viver como quiser, eles estão aí, com leis que surgem cada vez mais para ampará-los, com uma festa dedicada à eles - festa que está no ranking das maiores do mundo - e todas essas conquistas são com muito mérito, porque as batalhas enfrentadas todos os dias não são poucas.

Talvez eu esteja fazendo profecia: No futuro, esses episódios de repressão serão lembrados como a série de atos mais retrógrados cometidos pela sociedade, com a mesma vergonha que a escravidão é lembrada, e aqueles que compactuaram com eles seja em marchas, ou simplesmente com o olhar de repúdio lançado ao filho LGBT no silêncio dos próprios lares, serão recordados como pessoas que não trouxeram evolução moral nenhuma para a raça humana.

Daqui alguns anos, talvez seja achada a resposta para essa diversidade, barreiras múltiplas serão transpostas pela Ciência para chegar à Luz da verdade. Ou talvez a explicação não chegue a ser dada, e a sociedade entreveja além de rótulos, e antes de colocar uma etiqueta desrespeitosa de "sapatão" "viado" "gilette" ou "traveco", que seja colocado o fator HUMANO acima de tudo.

O sistema consegue oprimir o raciocínio, a liberdade de expressão, os costumes da cultura, e até a religião, mas a sexualidade é algo inerente à alma, onde nenhum médico pode fazer cirurgia para extirpar as nossas marcas.

terça-feira, 10 de junho de 2014

>> Ter demais

Como é triste a vida de quem não tem nada... aquela existência a qual os ignorantes dizem que a divindade não agraciou. E os desfavorecidos, alguns são resignados, enquanto outros maldizem as energias do Universo, o azar, invejam os agraciados.

Inocentes.

Os privilegiados acordam felizes  e vão dormir com a mente recheada de preocupações.

Aquele que nada tem, pouco tem a perder.

E quem é dono de muito, muito tem disponível para as situações ruins arruinarem. Quem muito tem, é dono de um medo de que a vida desvirtue e incendeie seu conto de fadas. Medo de acordar e perceber que um amigo querido faleceu; ou que foi traído pela mulher; que a bolsa de valores quebrou e fez escorrer pelo ralo seu dinheiro; que num acidente de carro sua face deformou-se irreversivelmente, perdeu o veículo ou o movimento das pernas, que a filha foi embora e não planeja mais voltar; ou que seu corpo está a revoltar-se contra si em forma de doença e destruição interna difícil de controlar.

Como é fraco nosso castelo de cristal...
Como é delicada a vida daqueles que muito tem...

E como são ingênuos aqueles que acham que ter tudo é garantia de felicidade no mundo onde tudo é transitório e instável. 

Felicidade é ter a alma serena diante da adversidade. A vida pode presentear de todas as formas, se o espírito não estiver em paz, tudo será em vão, fonte perene de inquietação.